Quem abre caminhos tem papel primordial para os sucessores. Reconhecer a iniciativa é nobre, bem como pode servir de estímulo. As riquezas do Paraná constituem importante referência a seu povo. A trajetória, os costumes e as conquistas transpõem limites geográficos e ampliam as perspectivas. Nesse contexto de valorização sociocultural, o jornalista e pesquisador Rogério Recco traz ao leitor da obra ‘Trilhos, Café e Terra Vermelha’ (Editora Viseu), um trabalho aprimorado sobre a ferrovia que integrou ao mundo o Norte do Paraná.
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Segundo Recco, as pesquisas para a elaboração do livro demoraram mais que o previsto, cerca de oito anos. “Há pouco material publicado a respeito da construção da Estrada de Ferro São Paulo-Paraná. Da mesma forma, não são muitos os registros fotográficos, assim como filmes daquele período, até porque a obra do trecho entre Cambará e Londrina foi executada entre 1928 e 1935, há mais ou menos 90 anos. Também não se encontram acervos disponíveis da MacDonald Gibbs & Co Ltd, a companhia britânica responsável pela construção da linha entre 1928 e 1932”, esmiúça.
Assim, o autor considera que seu livro presta uma singela contribuição a essa história que vale a pena ser contada. “Pois no entorno da linha várias cidades foram surgindo e a obra, pela sua magnitude, representou uma odisseia na selva do norte paranaense”, narra.
PRESENÇA DE INDIANOS
À época, grande parte do material empregado, como máquinas à vapor para a trituração de pedras, equipamentos diversos, veículos com a incipiente potência da época, e trilhos, eram trazidos do Reino Unido. E, segundo o autor, simultaneamente, vários idiomas faziam daquele ambiente multifacetado uma babel, tendo sido empregado um enorme contingente de trabalhadores braçais, parte dos quais oriundos de outros países. “Muita coisa tinha que ser feita no braço e o os registros revelam, por exemplo, a presença de indianos – entre as muitas as curiosidades”.
Desde a capa do livro, o leitor conhecerá Amedeo Boggio Merlo, personagem central. Era um visionário, um homem à frente do seu tempo, que enxergou a necessidade de registrar aquele momento. Mais tarde, ele viria também a prospectar oportunidades para investir na região.
Recco relata que primeiramente, ele inscreveu o seu nome na história documentando o passo a passo da construção da linha, lançando mão de uma parafernália formada por câmeras fotográficas e uma filmadora, que trouxera da Europa e o acompanhava no seu dia a dia.
E reflete o autor: “Sem isso, seria impossível imaginar o ritmo da construção, a rudeza da vida nos acampamentos em meio à selva, a remoção de formações rochosas para abrir caminho, o uso de carroças para transportar terra e materiais, ver os semblantes dos trabalhadores (muitos dos quais acompanhados de mulher e filhos pequenos), a instalação de dormentes e linhas, algumas inaugurações com a festiva chegada da Maria Fumaça, momentos de lazer.
Conta ainda que em uma segunda parte que ele se torna empresário do ramo madeireiro e também fazendeiro. Boa parte desse rico acervo formado por fotografias e filmes preservados com boa qualidade, está disponível no livro, que o leitor pode acessar por QRCode. “Não faria sentido privar o leitor disso. Talvez nem exista esse conceito, mas é um livro museu, inovador, em que o leitor pode também viajar no tempo, por meio das lentes de Amedeo, vendo exatamente o que ele viu e registrou há quase um século”, divide o escritor.
LEGADO ÀS FUTURAS GERAÇÕES
Ao considerar a importância de se preservar a história da região, o pesquisador ratifica a necessidade de conhecê-la melhor e legar esse valioso patrimônio para as gerações do presente e do futuro. “Felizmente, todo esse rico acervo de Amedeo Boggio Merlo recebeu os cuidados de seu zeloso filho Roberto, que reside em São Paulo e, há alguns anos, com todo o capricho, providenciou a digitalização das imagens e a sua edição. Uma parte que foi emprestada ao consulado britânico, lamentavelmente se perdeu”, expõe.
Essa trajetória sinaliza como a história do norte paranaense é rica e os pioneiros que ainda podem ser ouvidos se orgulham de relatar a saga de suas famílias. O autor deixa o leitor empenhado: “Imagine vir para o sertão inóspito e morar no mato, sem conforto algum, num ranchinho de palmitos, com fé no futuro e plantando café”. E dispara: “Imagine, também, um batalhão de trabalhadores prontos para o que der e vier, e uma refinada trupe de especialistas estrangeiros, habituados às comodidades da civilização, convivendo ao longo de anos em uma selva.”
Serviço:
‘Trilhos, Café e Terra Vermelha’
Editora Viseu
Impresso e e-book: Disponível nas lojas virtuais Amazon, Bookmate, Uol, Livroh, Skeelo, Ubook, Kobo, Epub, Fnac e outras.
R$ Valor: 45 reais
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