A mente do agricultor na era digital

Difícil acreditar como a digitalização avançou rapidamente no Brasil e no mundo, nos últimos anos. A pesquisa revelou que, em 2020, o agricultor brasileiro foi, na média global, o profissional que mais utilizou os meios digitais em suas atividades.

Segundo Marcos Jank, professor de agronegócio do Insper, desde o início da pandemia de Covid-19, os produtores brasileiros aceleraram mais a transformação digital de suas operações que países desenvolvidos. Essa pandemia promoveu um saldo fantástico na utilização dos meios digitais pelo agro brasileiro.

Durante os 12 últimos meses da crise pandêmica, o uso de meios digitais no Brasil subiu de 36% para 46%: incremento de 28%. Enquanto isso, nos Estados Unidos e na União Europeia, os usos dessas ferramentas, que antes da pandemia já eram mais modestos, respectivamente na casa dos 24% e 15%, continuam inferiores, não passando de 31% e 22%.

 Além do comércio, as amenidades e as trocas de informações técnicas, climáticas e conjunturais também migraram, em boa parte, para os smartfones. Tudo isso é extremamente positivo. A crise sanitária de 2020/2021 constituiu-se num grande acelerador de engajamento digital de agricultores nativos, envolvendo aspectos como compra de insumos e maquinários, comercialização da produção, agricultura de precisão, inovação, planejamento, gestão financeira e de riscos e sustentabilidade.

“A abertura do agricultor brasileiro para a era digital é uma realidade, e nos últimos dois anos observa-se uma vivência muito intensa sobre essa questão no País”, declarou o presidente da divisão agrícola da Bayer do Brasil.

Mas tem problemas. Os principais gargalos para maior penetração da tecnologia digital é a infraestrutura digital deficiente, a insegurança digital e a pouca experiência do usuário no uso da ferramenta. Apenas 23% dos usuários têm acesso completo à Internet em toda a operação agrícola. Além disso, a exemplo do que acontece com outros usuários das redes sociais, os agricultores são vítimas das fake news e de outras abordagens, que acabam por desinformar e influenciar os agricultores para atendimento a interesses alheios aos seus.

Espera-se que, com o tempo, os agricultores e os demais cidadãos conectados possam desenvolver os filtros de que necessitam para resistirem ao impacto dessas maldades e se resguardem do potencial negativo da tecnologia que têm nas mãos.

Se tem algo que podemos lastimar nessa onda positiva da internet, é o acesso desigual a essa tecnologia entre os agricultores, promovendo a segregação dos menos capazes de lidar com a novidade, deixando-os cada vez mais isolados no processo evolutivo socioeconômico, até, talvez, serem forçados a desistir da atividade rural, por absoluta falta de competitividade.

Felizmente, iniciativas como as da Emater de Minas Gerais, que promove parcerias com prefeituras, outras instituições públicas e privadas e voluntários em apoio à comercialização de frutas, hortaliças e produtos processados de agricultores familiares, tem viabilizado a sobrevivência de pequenas explorações agropecuárias, amenizando o gargalo do desencorajamento em lidar com as novas tecnologias.

Uso de ferramentas digitais precisa alcançar a todos. Elas significam inclusão social e econômica do usuário.

Amélio Dall’Agnol e Arnold B. Oliveira, pesquisadores da Embrapa Soja

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