A eleição e uma primeira lição

Sem a pretensão de aprofundar o assunto, o que nem poderia ser o escopo deste artigo, arrisco humildemente uma pequena conclusão sobre a eleição.

Os eleitores deste pleito dividiram-se em quatro grupos bem distintos. Comecemos por aquele já apelidado de “bolsonarismo raiz”. Desde cedo, quiçá há mais tempo do que possamos estimar, identifica-se com as ideias e a postura política do longevo deputado federal Jair Bolsonaro. São os que se sentiram fortalecidos com a sua ascensão à presidência e nele viram o líder forte, esperado, para finalmente construírem o Brasil da meritocracia, conservador nos costumes e na moral, nacionalista e livre, conceito esdrúxulo, mas fundamental para este grupo! O candidato derrotado dirigiu-se durante quatro anos, prioritariamente a eles. Minoritário, mas fiel.

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O segundo contingente de brasileiros seria constituído pelos antipetistas e sensíveis à questão da corrupção. Foi este que quase entregou a vitória a Bolsonaro no passado dia 30. Nascido principalmente à sombra da Lava Jato, é constituído por cidadãos que inundaram as ruas em 2013 e provocaram a queda da Dilma. Gente de direita, que flertou com a ideologia do primeiro grupo em função de suas convicções sobre governos anteriores, relativizando, porém, as mazelas do atual.

O terceiro aglomerado está em torno do PT. São os “petistas” filiados ou simpatizantes com o maior e mais organizado partido pós redemocratização. Estão com Lula. Sempre com Lula. Independentemente de onde ele estiver. Esse núcleo pode andar em torno de 30%, mas não sabemos. São brasileiros que acreditam que o PT é a representação legítima da esquerda e, por conseguinte, com direito a incutir ao país um governo progressista.

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Sobram os cidadãos que não se coadunam com as identificações anteriores. Fenômeno tão normal quanto o exercício da democracia! Não será difícil mensurar o tamanho deste núcleo, aparentemente disperso partidariamente, mas que apoiou o candidato vencedor. Seria uma tentação alocá-los na chamada “terceira via”, mas creio que vão mais além. O que é de suma importância para o momento e já ficou claro nas primeiras declarações de Lula, é reconhecer que os “não petistas democratas e brasileiristas genuínos”, foram decisivos para impedir que a extrema direita tomasse o poder talvez de forma irreversível, à imagem do que está acontecendo noutros países!

Portanto vamos à grande lição! O Brasil não é mais o mesmo da década de 90! Não existe a menor possibilidade de uma contenda republicana entre dois partidos democratas fortes, como seria talvez o sonho de consumo da maioria! A derrocada do PSDB sela o meu raciocínio, corroborado pelo fortalecimento do Centrão no futuro Congresso. O Brasil vai ser governado por uma ampla frente democrata! Na melhor das hipóteses, será um governo de transição com a gigantesca tarefa da reconciliação nacional, o resgate da imagem externa e o fortalecimento das políticas públicas.

Contudo, atentemos para a idade de Lula. Outras forças, da esquerda ou não, bem como líderes sensatos e de coragem, já surgiram no horizonte. O PT pode continuar sendo um partido forte, mas o centro direita deve urgentemente se descolar do abismo onde quase caiu e se reorganizar. Se essas duas frentes aproveitarem o momento presente, os extremismos não terão lugar. O Brasil poder-se-á beneficiar sobremaneira de uma alternância de poder, sem ruptura de programas e muito menos de instituições.

No momento em que escrevo estas linhas, são deveras preocupantes as notícias que nos chegam dos EUA sobre as ameaças reais à democracia. Por aqui, o fascismo poderá estar presente em cerca de 25% da população! É muita gente que não estudou ou sofre de amnésia! Os bloqueios criminosos pós-eleição e a expressão é pública mostraram o rosto de alguns deles! Aguardemos para ver o que vai acontecer nestes quatro anos. Para já, o susto de que não viramos uma autocracia por um triz, já basta!

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina

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