Sharm El-Sheikh, Egito – Em seu primeiro discurso internacional desde a eleição, Lula (PT) cobrou na COP27, conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas), nesta quarta (16), recursos para que os países enfrentem a crise climática, com uma “nova ordem internacional”.
O tema da mudança climática “terá o mais alto perfil na estrutura do meu próximo governo”, disse. “Não há segurança climática para o mundo sem a Amazônia protegida.”
“Não existem dois Brasis, nem dois planetas Terra. Precisamos de mais empatia e mais confiança entre os povos. Superar e ir além dos interesses nacionais imediatos, para ser capazes de tecer coletivamente uma nova ordem internacional que reflita necessidades para o presente e futuro”, afirmou.
Lula destacou que a crise do clima “compromete vidas e gera impactos negativos na economia dos países”, citando dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), e criticou o desmonte na área ambiental durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
O discurso em espaço da Nações Unidas, em Sharm el-Sheikh, no Egito, ocorre após ele anunciar pela manhã, em evento com governadores da Amazônia Legal, que pedirá às Nações Unidas que o Brasil seja o anfitrião do evento em 2025.
A fala começou por volta das 17h30 (hora local, 12h30 do horário de Brasília). Ao encerrar o discurso, cerca de meia hora depois, disse que o mundo pode esperar um Lula “muito mais cobrador”.
A sala em que o discurso foi proferido lotou quase uma hora antes de o evento começar. Para comportar mais pessoas, uma sala adicional foi disponibilizada com a transmissão.
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Nas duas primeiras fileiras se sentaram, entre outros, os senadores Renan Calheiros, Randolfe Rodrigues, Kátia Abreu, Fabiano Contarato, além do governador do Pará, Helder Barbalho, e Marina Silva, deputada federal eleita e ex-ministra do Meio Ambiente (principal nome cotado para o cargo no novo governo).
Desde a manhã, a agenda de Lula na COP27 deixou os espaços da conferência lotados, com apoiadores cantando músicas da campanha enquanto esperavam os eventos começarem.
Ao lado de governadores da Amazônia Legal, de manhã, ele afirmou que pedirá a realização da COP30 do clima no Brasil. “Vamos falar com o secretário-geral da ONU e pedir para que a COP de 2025 seja feita no Brasil e na Amazônia”, disse Lula.
“Eu estou aqui para dizer para vocês que o Brasil está de volta ao mundo. O Brasil está saindo do casulo a que ele foi submetido ao longo dos últimos quatro anos. O Brasil não nasceu para ser um país isolado”, afirmou também.
Lula, pela manhã, criticou que o “Brasil não viajava para nenhum país e ninguém viajava para o Brasil” no governo Bolsonaro. “Parecia um bloqueio, mas não era um bloqueio econômico – era um bloqueio contra um governo que não fazia nenhuma ação, nenhum esforço para conversar com o mundo”, discursou.
Quanto ao local em que a conferência poderia ocorrer, Lula citou Amazonas e Pará como estados aptos para sediar o encontro.
Lula deve se reunir com António Guterres, secretário-geral da ONU, nesta quinta (17).
A presidência da COP do Clima tem rotatividade regional e volta a ser de um país latino-americano em 2025. A conferência teria acontecido no Brasil em 2019, mas foi cancelada por Bolsonaro ainda em 2018, logo após se eleger.
A fala sobre o pedido do Brasil para sediar a COP30, em 2025, veio após sugestão de Helder Barbalho (MDB), governador do Pará, responsável pelo convite para Lula participar da conferência no Egito.
“Além de propor que a COP aconteça no Brasil, queria lhe pedir que o senhor possa oferecer a Amazônia para sediar a COP em 2025, a COP30, para que possamos levar o planeta para debater a Amazônia conhecendo a Amazônia”, afirmou.
Neste primeiro dia de agenda pública no evento, após encontros a portas fechadas na terça, Lula recebeu de governadores da Amazônia Legal nesta manhã uma carta com propostas para a região. A leitura do documento, que foi encarado com ceticismo por ONGs, foi feita por Helder Barbalho.
“Expressamos a disposição em construir uma relação profícua e eficaz com o governo federal, baseada no respeito democrático, na observância da Constituição e do diálogo com os poderes constituídos nas esferas estadual e federal”, diz o texto.
Os políticos reforçam, porém, que querem preservar a autonomia construída ao longo dos últimos quatro anos – quando se mobilizaram em ações conjuntas voltadas para a região, se posicionando quase como um ente paralelo ao governo de Jair Bolsonaro.
Lula, após a leitura, disse concordar com o conteúdo. “Eu só queria que os governadores levassem em conta que eu assinaria esse documento de vocês sem nenhum problema porque é mais do que justo que nós recuperemos a aliança entre as unidades federativas para que o governo federal governe em comum acordo com os governadores, e mais ainda que o governo federal volte a governar em acordo com os prefeitos”, afirmou.
Também no discurso pela manhã, Lula reforçou a promessa de campanha de criar o Ministério dos Povos Originários, para fortalecer políticas públicas para indígenas.
Ao chegar ao pavilhão da COP27 nesta manhã, por volta das 11h15 no horário local (6h15 pelo horário de Brasília), antes de se posicionar diante do público, Lula se reuniu em uma sala com governadores de Acre, Mato Grosso, Pará e Tocantins, além do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Fernando Haddad, que integra a comitiva do governo de transição.
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