Uma pesquisa feita pela Kantar Divisão de Pesquisa de Mercado, Insights e Consultoria da WPP, por solicitação da Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios) mostra que a adesão a consórcios aumentou durante a pandemia de Covid-19. Dentre os 2 mil entrevistados pelo estudo, 61% em 2020 conheciam a modalidade consórcio, mas nunca haviam aderido a uma cota, dado que caiu para 59% em 2021. Dos mesmos entrevistados, dentre os 36% que já haviam participado do Sistema de Consórcios, o número dos que já haviam sido consorciados uma, duas ou três vezes saltou de 6% em 2020 para 11% em 2021.
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Dentre os motivos levantados pela pesquisa para esse aumento, destaca-se uma maior compatibilidade do consórcio com a renda das pessoas após o início da pandemia. “O consórcio acaba tendo um valor menor que o de um financiamento, por exemplo”, explica o professor de Economia na UEL (Universidade Estadual de Londrina) e Delegado do Corecon-Pr (Conselho Regional de Economia do Paraná) da Regional de Londrina, Emerson Esteves. “Ele não tem cobrança de juros, apenas taxas administrativas. Essas taxas são a soma da taxa do fundo comum, da administração e fundo de reserva”, aponta.
“Acredito que o consórcio é interessante e vale a pena se for considerado como uma forma de controle financeiro, garantir que você vai reservar o valor da parcela em direção ao seu objetivo, com a possibilidade de receber antes mesmo de acumular o valor total”. Assim o desenvolvedor de software Nicolas Jashchenko Omori, de 23 anos, avalia a conveniência de fazer um consórcio no cenário atual. Omori adquiriu há sete meses a primeira moto por meio de consórcio. “Por também ser um retorno em um prazo menos imediato, vale a pena porque dá tempo de alinhar se o bem é o que você realmente deseja antes de entrar efetivamente no consórcio”, relata.
Como funciona?
“O consórcio é uma modalidade de aquisição na qual as pessoas se unem e vão pagando uma parcela por mês, o que vai formando uma poupança para todos, com o objetivo de adquirir um bem ou serviço”, explica Esteves. “E, então, até um período estipulado por contrato, todas essas pessoas têm acesso à sua carta de crédito e vão poder adquirir o bem que pretendem”.
O economista menciona que, durante esse período, há também a possibilidade de fazer lances, o que pode antecipar a aquisição do bem ou serviço. “É como se fosse o valor antecipado de uma ou mais das parcelas do consórcio. Então, ao invés de pagar sempre uma vez ao mês, a pessoa pode pagar esse valor antecipadamente e aumentar as chances de contemplação”, informa.
O professor de Economia na Unopar (Universidade Norte do Paraná, Kroton Educacional) e consultor da Norte Econômico Consultoria, Renan Luquini, cita os tipos de bens ou serviços que podem ser adquiridos por meio da modalidade. “No prazo estipulado no contrato, mensal ou quinzenal, a administradora de consórcios (entidade autorizada pelo Banco Central a comercializar estes produtos) contempla os participantes, por sorteio ou lance, com o crédito no valor do bem ou do serviço contratado, até que todos sejam atendidos”, descreve. “Esses bens ou serviços podem ser os mais diversos, como carros, motos, imóveis, eletrodomésticos, cirurgia plástica, entre outros”, exemplifica.
Para Nicolas Jashchenko Omori, adquirir a primeira moto por consórcio foi interessante. “Depende da sorte no sorteio de contemplação, com possibilidade de retirar no mês seguinte ou até mesmo bem próximo ao final do prazo do consórcio”, explica. “O contraponto principal do consórcio é isso, você não sai com o bem na hora”, relata. Apesar da espera, ele relata que a experiência, no geral, foi boa. “A maior vantagem para mim é em questão de valores mesmo”, conta. Em dez meses, o desenvolvedor de software já pôde receber a moto, mas conta que ainda tem de pagar um ano e meio de parcelas.
“A experiência com a compra foi, de certa forma, bem tranquila. O planejamento inicial era dar um valor de entrada e financiar o restante do valor, mas logo percebi que o valor final ficaria muito acima do valor real da moto”, descreve Omori. “A concessionária me ofereceu, então, a opção do consórcio, que tinha um valor muito próximo do valor da moto. A partir daí foi decidir um plano com um valor que encaixasse no meu orçamento”, lembra.
Esteves avalia que, para quem não tem muito dinheiro disponível no momento, pode ser uma boa opção. “Às vezes, para uma pessoa que tem mais possibilidade de guardar dinheiro, ela prefira poupar um valor por conta própria, planejar e depois ir negociar a compra de algum bem. Então, acredito que vai muito do perfil da pessoa”, reflete.
Luquini, que é professor também na Especialização em Economia Empresarial da UEL, afirma que o consórcio não deve ser considerado um investimento. “De acordo com o Banco Central do Brasil, ‘investimento é a aplicação dos recursos que poupamos, com a expectativa de obtermos uma remuneração por essa aplicação’. Dessa forma, ele não é um investimento em si, mas pode ser um meio de viabilizar bons investimentos”, declara. “Só não deve fazer o consórcio quem não tem como objetivo comprar um bem ou serviço ou quem não possui renda suficiente para pagar a parcela. Não faz sentido se endividar para pagar a parcela e muito menos se tornar inadimplente”, alerta.
Dicas para começar
“Quem estiver pensando em fazer o primeiro consórcio, a dica é que converse com parentes ou amigos que já tenham feito antes, e peça indicações sobre as empresas com as quais eles assinaram contrato, pegar informações com pessoas que já tenham passado por essa experiência”, recomenda Esteves.
Luquini confirma que é necessário fazer uma boa pesquisa antes de começar. “Busque uma administradora autorizada a funcionar pelo Banco Central. Verifique também se o valor do crédito e o prazo de duração do grupo constam no contrato e confira os percentuais de contribuições (taxa de administração e, se houver, fundo de reserva e/ou seguro) e as demais despesas que serão cobradas”, indica. “Além disso, confira o critério de correção que será aplicado pela administradora.”
Ambos os economistas ressaltam a necessidade de verificar que o valor da parcela não será pesado demais para o orçamento. “O recomendado é que a parcela seja em torno de 10% a 15% do orçamento mensal, para que não interfira com as demais despesas”, alerta Esteves. Luquini confirma. “Além disso, é preciso saber se você precisa daquele bem ou serviço imediatamente ou se pode esperar, pois a pessoa só recebe a carta de crédito quando é sorteada ou faz lances e isso pode levar certo tempo. É necessário já entrar nessa modalidade tendo um objetivo claro do que fará com o dinheiro”, aconselha.
*Supervisão de Claudemir Scalone
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