SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Treinador campeão olímpico com a seleção masculina de futebol há nove meses, André Jardine hoje vive um desafio novo e inusitado: em fevereiro, trocou a CBF pelo Atlético de San Luis, da elite do futebol mexicano. Mesmo em pouco tempo, dá para dizer que já fez história, conquistou o carinho de torcedores e ainda livrou o time de um prejuízo na casa de R$ 20 milhões.
A explicação é simples: desde o começo da pandemia e até segunda ordem, não existe rebaixamento no México. Para compensar, a federação de futebol do país criou uma multa para os três últimos colocados da liga. Quem vai mal precisa pagar R$ 8 milhões, R$ 11,4 milhões ou até R$ 19,5 milhões se for o lanterninha. Era esta posição a última do time quando Jardine chegou.
Ele comandou 12 jogos até agora. Perdeu quatro, empatou dois e venceu seis, um aproveitamento de 55,5% suficiente para o time saltar da lanterna para a décima posição do Clausura, o segundo turno do Campeonato Mexicano. O principal objetivo era evitar a multa, mas agora o San Luis tem vaga garantida até na repescagem que vai definir os finalistas.
Essa boa fase fez André Jardine virar uma figura querida entre os torcedores. Ele é personagem de vários memes e o time ganhou o apelido de “La Jardineta”, uma brincadeira comum na América Latina com nomes de treinadores.
É que o Atlético de San Luis não é um time acostumado a grandes feitos. Fundado em 2013, subiu para a elite do México na temporada 2019/2020 e nunca tinha conseguido somar tantos pontos num turno de liga -Apertura ou Clausura. Os atuais 23, ainda faltando uma rodada para o fim, traduzem a melhor campanha da história nestas três temporadas.
Tem outro feito que entra para a conta do trabalho do brasileiro: quando ele chegou, o San Luis não vencia um jogo como mandante há cinco meses. Foram oito jogos de jejum, sendo dois já sob o comando dele, até a vitória sobre o Puebla que encerrou a sina. Agora são quatro vitórias seguidas em casa. É o que explica o amor por André Jardine.
O elenco do Atlético de San Luis tem dois jogadores com passagens pelo futebol brasileiro: Sambueza, meia argentino de 38 anos que atuou no Flamengo em 2008, e Abel Hernández, atacante uruguaio que jogou no Internacional e no Fluminense entre 2020 e 2021. Outros nomes importantes do elenco são Barovero (goleiro, ex-River Plate), John Murillo (atacante da seleção da Venezuela) e Juan Sanabria (meia uruguaio de 22 anos que pertence ao Atlético de Madri e já jogou sob o comando de Diego Simeone).
Aliás, o gigante espanhol é dono de metade das ações do Atlético de San Luis e usa o clube mexicano como um centro de formação e desenvolvimento de jogadores. Jardine espera que isso também valha para treinadores, como ele. O brasileiro gostaria de fazer pelo menos um estágio com o argentino.
Jardine foi para o México junto com o auxiliar Gustavo Leal e o analista de desempenho Eduardo Bressane, também campeões olímpicos, além do preparador físico Kako Perez, ex-São Paulo. O contrato é de dois anos e meio.
No Brasil, Jardine é multicampeão nas categorias de base, mas como técnico de times profissionais teve experiência só no São Paulo durante 15 jogos em 2019. Depois das Olimpíadas, ele foi procurado pelo Bahia, mas as negociações não evoluíram. Quando partiu para o futebol mexicano, foi substituído pelo ex-meia Ramon Menezes na seleção sub-20.