Idade não é nada, diz Cesar Maluco, 76, antes de lançar cerveja com seu nome

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cesar sonhou que estava em uma churrascada e alguém saiu para comprar cerveja. Quando voltou, as latas começaram a passar de mão em mão. “Pô, isso é o sabor do gol”, pensou.

Na idade em que seus antigos colegas estão aposentados e inativos, Cesar Augusto da Silva Lemos, o Cesar Maluco, sonha. Aos 76, ele tem um programa de televisão (que também está em plataformas de vídeo, o que o transforma em YouTuber), planeja biografia, mandou fazer um busto de si mesmo para colocar no Palmeiras e, enfim, vai lançar sua própria cerveja.

O slogan é o mesmo que veio à sua cabeça enquanto dormia: o sabor do gol.

“Ninguém tem o mesmo gosto. É só meu. Foi um mestre cervejeiro de Londrina quem fez”, explica.

Segundo seus sócios, Fabio Caldeira e Mario Colombo, a expectativa é colocar o produto no mercado em cerca de dois meses. Não seria a primeira iniciativa do tipo. Outros ex-jogadores fizeram o mesmo, como Marcos (ex-Palmeiras), Vampeta (ex-Corinthians) e Aloisio Chulapa (ex-São Paulo).

“Mas a minha é diferente. É cerveja para quem gosta de beber cerveja, não para colecionar”, promete, referindo-se ao valor para o consumidor. Considera que as outras lançadas por antigos atletas são caras demais, com preços superiores a R$ 20. A dele vai sair por cerca de R$ 10.

A cada dia de jogo do Palmeiras, seja no Allianz Parque ou fora, Cesar está em um bar na rua Caraíbas, a poucos metros do estádio, vendendo o seu chope. É um teste de popularidade no local em que se sente à vontade. Pessoas que nunca o viram jogar, mas sabem que está ali um dos maiores ídolos da história do clube, param para conversar e tirar fotos, conversam e experimentam a bebida.

Inconformado sobre como os jogadores de hoje não têm quase nenhum contato pessoal com o público, Cesar Maluco lembra que tudo o que fez até hoje foi para manter essa proximidade com o torcedor. A verdadeira morte é ser esquecido, diz.

“Eu fui um atleta de nome. Quando fazia um gol, olhava para o torcedor de forma distante, do campo para a arquibancada. Depois que parei, falei para mim mesmo: esses são os meus verdadeiros amigos. Eu vou a eventos no interior, tem gente da minha idade que chora quando me vê. É a coisa mais linda do mundo”, lembra.

Cesar Maluco (que um dia odiou esse apelido) fez 182 gols em 327 jogos pelo Palmeiras entre 1967 e 1974. É o segundo maior artilheiro da história da equipe, atrás apenas de Heitor (323). Também é o segundo na lista de principais goleadores alviverdes no dérbi, o clássico com o arquirrival Corinthians, com 14 anotados.

Foi campeão brasileiro em 1967 (duas vezes, Roberto Gomes Pedrosa e Taça Brasil), 1969, 1972 e 1973. Ganhou o Paulista em 1972 e 1974.

Suas velhas aventuras pela noite de São Paulo, acompanhado por outros jogadores e jornalistas, tornaram-se folclóricas. Para não perder horário de treino pela manhã, saía da balada para dormir na arquibancada do antigo estádio Palestra Itália. São essas histórias, esses assuntos, que compartilha com os torcedores que o procuram para dar um abraço e tirar uma foto na Caraíbas, entre um chope e outro. Ele também repete as explicações sobre por que aquela cerveja tem “o sabor do gol”.

“Eu parei [de jogar] em 1979. Dali para a frente, não tem nada mais. Só o que me restou foi o carinho do torcedor. Tem quem tenha parado de jogar e continue achando que é jogador, quer ficar distante. É o torcedor quem deixa a família em casa, tira aquele dinheirinho do bolso e paga para nos ver. Isso é amor. O amor que eles tiveram por mim eu tento retribuir.”

Para manter essa proximidade, ele também apresenta, comenta e conta histórias no “Cesar Maluco na Área”, programa transmitido semanalmente pela TV Aberta, emissora comunitária de São Paulo, e disponível no YouTube. Com a ajuda de um jornalista, produziu biografia que ainda pensa quando lançar (“são muitas histórias”, afirma).

Seu irmão, o ex-jogador e artista plástico Lemos, fez um busto que ele queria colocar na área do tênis do clube social, mas que agora espera ver instalado na sala de troféus do Palmeiras.

“Eu vou esperar que alguém faça por mim? Eu, não. Fui lá e fiz!”

Conversar com Cesar Maluco é escutar um arsenal interminável de histórias dos anos 1960 e 1970. Nem todas publicáveis. Às vezes disperso, começa uma, depois emenda outra sem terminar a primeira, mas adora ter uma audiência, alguém que escute e, principalmente, saiba quem ele foi: um dos maiores jogadores da história do Palmeiras.

“Eu tive uma infância muito humilde. Torcia muito para o Dida [meia do Flamengo, convocado para a Copa do Mundo de 1958]. Chorava pelo Dida. Então, eu sei como o torcedor se sente quando tem um ídolo. Eu abraço, fico à vontade. Receber um abraço, dar um autógrafo, é lindo”, resume.

Esta é a melhor explicação que consegue dar quando questionado por que quer lançar uma cerveja com seu nome e seu rosto no rótulo.

“Se tem alguma coisa que eu ainda quero fazer na vida? Ah, tem. Voltar a dar alguma alegria ao torcedor. Tenho tempo. Idade não é nada.”

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