No Musicle, jogo digital de adivinhação de canções, o usuário escuta o trecho de uma música e escolhe entre quatro opções de qual álbum ela faz parte. Tudo muito simples, sem cadastros, nem anúncios excessivos. A semelhança com o Wordle, que envolve a descoberta de palavras, viralizou no mundo inteiro e foi comprado pelo New York Times, não é mera coincidência.
Embora esteja todo em inglês, o Musicle foi criado em São Paulo, pelo publicitário brasileiro Adriano Brandão, de 43 anos. Apaixonado por música clássica, ele conta que, desde 2019, cultivava a ideia de fazer um jogo nesses moldes. Foi a mulher, Elza, que o incentivou, ao vê-lo tentando adivinhar as canções que se sucediam no rádio do carro enquanto dirigia de um lugar para outro.
Perfeccionista, Brandão começou a pensar em algo muito complexo, com várias etapas e recursos para evitar trapaças. Com o vai-e-volta, o projeto acabou relegado ao fundo de uma gaveta. “Quando vi o Wordle, percebi que o jogo não tinha nenhuma dessas preocupações”, contou ele, em entrevista por telefone à VEJA. “Simplesmente, parte do princípio que as pessoas só querem adivinhar e brincar.”
O Publicitário Adriano Brandão, desenvolvedor do Musicle –Arquivo Pessoal/Reprodução
Quando criou o Musicle, no entanto, o publicitário se permitiu fugir um pouco do minimalismo. Ao entrar na página inicial, o usuário pode escolher entre 13 “flavors” (sabores, em inglês), como ele chamou os vários gêneros musicais listados no cardápio oferecido. Alguns são autoexplicativos, como “metalhead”, “classicle”, “jazzle”, “rock”, “k-pop”, “r&b” e “hip-hople”. Outros exigem a leitura da legenda, como “1001” e “easy radio”. Há também, claro, uma categoria para música brasileira.
O usuário é levado, então, para outra página, na qual surgem três barras, a primeira aberta e as outras duas fechadas. No alto, um botão de “play” solta um aperitivo de 30 segundos de uma música. Em seguida, o jogador tem de adivinhar de qual álbum dos quatro listados ela faz parte. Acertando ou errando, outro teste se abre. Ao fim, o resultado aparece, com um link para compartilhar a performance nas redes sociais.
O banco de dados utilizado por Brandão é da Apple Music, que disponibiliza trechos, capas e informações para desenvolvedores interessados em criar esse tipo de aplicativo ou site musical. “Outras plataformas fazem isso, como o Spotify e o Deezer”, disse ele. “Mas nenhum tem essa variedade.”
Lançado na noite do dia 11, o Musicle atraiu nos primeiros três dias de vida 63 mil jogadores. A maior parte, segundo o “pai” do joguinho, do Brasil, mas com algumas ocorrências na Colômbia e no Chile. Brandão diz que fez o site em inglês pensando mesmo no mercado externo. “Além disso, música é universal”, disse ele. “Então, a chance de atingir mais pessoas é muito maior.”
Ex-administrador do site do jornal A Gazeta do Povo e ex-sócio fundador de uma agência digital, Brandão hoje se dedica a pensar em projetos como o Musicle e administrar outros dois envolvendo música clássica, o Concertino e o Concert Master. Ele ri quando questionado sobre a possibilidade de um veículo como o New York Times comprar seu joguinho por “pouco mais de sets dígitos”. “Seria um sonho”, conclui.